Protetores Auriculares e a Faixa de Redução de Ruído: o que realmente protege seus ouvidos

A proteção auditiva é um daqueles temas que parecem simples — colocar um abafador e pronto —, mas que, quando olhamos mais de perto, revela uma ciência cheia de detalhes, física de ondas sonoras e até um pouco de engenharia de materiais. Vamos entender como funcionam os diferentes tipos de protetores auriculares, suas faixas de redução de ruído e como interpretar corretamente os números que aparecem no Certificado de Aprovação (CA).

Diego Michel Ritterbuch

10/7/20253 min read

O que é a “faixa de redução de ruído”?

A faixa de redução de ruído é o intervalo de atenuação sonora que um protetor auricular oferece em determinadas frequências (medidas em hertz, Hz). Sons graves (como o ronco de motores) e sons agudos (como o ruído de esmerilhadeiras) são percebidos de forma diferente pelo ouvido humano, e nem todo protetor tem a mesma eficiência em todas as faixas.

A eficiência é expressa em decibéis (dB) — e é aqui que entram duas siglas importantes:

  • NRR (Noise Reduction Rating): índice de redução de ruído adotado nos EUA.

  • NRRsf ou NRR(SF): índice utilizado no Brasil, que considera fatores de segurança segundo a norma ANSI S12.6.

Em linhas gerais, o NRRsf é sempre menor que o NRR, pois aplica correções que simulam condições reais de uso — onde o protetor não está perfeitamente posicionado.

Tipos de protetores e suas características de atenuação

1. Intra-auriculares (plug de inserção)
Esses são os clássicos protetores de espuma ou silicone que se inserem no canal auditivo.

  • Faixa típica de atenuação: de 12 a 25 dB (NRRsf), dependendo do material e do encaixe.

  • Melhor desempenho: em frequências médias a altas (acima de 1000 Hz).

  • Variações: plugs moldáveis, reutilizáveis, com ou sem cordão.

  • Fator crítico: ajuste. Se não estiver bem inserido, o desempenho cai drasticamente — em alguns casos, mais de 50%.

2. Tipo concha (abafadores externos)
Com suas almofadas envolventes e arco ajustável, são ideais para ambientes de ruído contínuo e alto.

  • Faixa típica de atenuação: de 20 a 35 dB (NRRsf).

  • Melhor desempenho: em frequências baixas a médias (de 250 a 2000 Hz).

  • Variações: modelos com conchas duplas, vedação em gel ou espuma, versões com rádio comunicador ou eletrônicos que filtram ruídos de impacto (como tiros).

  • Fator crítico: pressão do arco e vedação da almofada — óculos ou cabelos podem comprometer o isolamento.

Por que os números variam tanto?

Porque o desempenho depende de três fatores principais:

  1. O material e design do protetor – espuma de poliuretano, silicone, PVC ou concha plástica com isolamento acústico variam em absorção sonora.

  2. A frequência do ruído – sons agudos são mais facilmente atenuados do que os graves.

  3. A forma de uso – inserção incorreta, desgaste ou sujeira reduzem a proteção real.

Em testes laboratoriais, os protetores são avaliados em várias frequências (125 Hz a 8000 Hz). O resultado é uma curva de atenuação, e a média ponderada dessas medições origina o NRRsf que aparece no CA.

Como saber a faixa de redução de ruído de cada CA?

O Certificado de Aprovação (CA), emitido pelo Ministério do Trabalho e Emprego, traz o número de registro do protetor.
Você pode consultar o banco de dados oficial de CAs no site do MTE (https://consultaca.mte.gov.br/).
Lá, basta digitar o número do CA impresso no produto ou na embalagem para acessar:

  • Marca e modelo do protetor

  • Tipo (plug ou concha)

  • Material

  • Índice de redução de ruído (NRRsf)

  • Relatório do laboratório que realizou o ensaio acústico

Essa é a forma mais confiável de saber se o protetor realmente entrega a atenuação prometida e se o CA ainda está válido, algo essencial para auditorias de segurança.

Escolher o protetor certo é engenharia de conforto

Protetor demais é tão ruim quanto protetor de menos — se a atenuação for exagerada, o trabalhador pode se sentir “isolado” e acabar retirando o equipamento. Por isso, a escolha deve equilibrar conforto, comunicação e segurança. O ideal é buscar sempre a menor atenuação que ainda garanta exposição abaixo de 85 dB(A).

Em resumo:

  • Intra-auriculares → bons para ruído leve a moderado, alta frequência.

  • Tipo concha → indicados para ruído intenso e de baixa frequência.

  • Combinação dos dois → recomendada para ambientes extremamente ruidosos (acima de 100 dB(A)).

Quer sofisticar sua gestão de EPI? Use as fichas técnicas e CAs para montar um banco de dados interno, cruzando os NRRsf dos protetores com as medições de ruído dos postos de trabalho. Essa prática, além de técnica, é elegante — e evita surpresas nas próximas auditorias de segurança.